Os costumes e tradições de um bairro podem ser analisados a partir da cultura e vivência das pessoas que nele habitam. A cultura de um bairro pode ser influenciada por diferentes fatores, como a história do local, a presença de imigrantes e a proximidade com o centro da cidade.
Na verdade, há mais do que um conhecimento mútuo: há um contato social. Cada morador do bairro ou da vila aufere certo proveito dessa vizinhança, desde que se pague o devido preço. Ele recebe pequenas gratificações dos outros: sorrisos, saudações, cumprimentos, trocas de palavras que dão a sensação de existir, de ser conhecido, reconhecido, apreciado, estimado (Antoine Prost 1992 p.116).
O cotidiano dos moradores de vários bairros, sobretudo quando são periféricos, de algum modo se apresenta bastante pitoresco. Como Prost (1992) observou, são sorrisos, saudações, cumprimentos que fazem dos bairros verdadeiros palcos de reconhecimento, de ser conhecido e reconhecido, apreciado e estimado.
É na sociabilidade construída cotidianamente que os diversos atores sociais vivem e convivem com seus iguais, participando de várias atividades em conjunto; principalmente quando estas atividades estão voltadas para o lazer; se reunindo para resolver os problemas mais corriqueiros: como a falta de energia elétrica de algum morador ou socorrer algum vizinho que se encontra doente (neste caso, o vizinho se torna uma figura mais do que importante no convívio social). O bairro, desse modo, não é apenas uma demarcação territorial que divide a cidade – servindo para delimitar os espaços urbanos e o controle administrativo dos serviços públicos e municipais – mas, antes de tudo, o bairro é a própria constituição de uma cidade, onde os moradores que nele habitam se identificam, se sociabilizam, criam laços afetivos e sentimentos de pertencimento. No bairro se percebe rituais, práticas habituais, habitus, e tradições. No bairro se percebe dificuldades e problemas. Problemas com o crescimento populacional, com infra-estrutura, com a violência, com a falta de serviços, com a falta de emprego, com as favelas que começam a circundar, etc.
O pitoresco e o idílico, existentes em um bairro, se mesclam com as dificuldades, com o medo, com a indiferença, com os estranhos, com os dessemelhantes. Neste sentido, se o bairro é o espaço do convívio mútuo (PROST 1992), da harmonia, dos trabalhadores, do bom vizinho, da amizade, do lazer, do “pedaço1” (MAGNANI 1984), também é o espaço do vagabundo, do vizinho encrenqueiro, do maconheiro, do estranho, da violência.
Ser estranho em um bairro de características pessoalizadas é ser intruso e diferente. E se o estranho é olhado com certa hostilidade pelos moradores do pedaço, com desconfiança ou receio, aqueles que são impessoais também são vistos atravessadamente por não conviverem “simpaticamente” com os demais moradores. Diferente do estranho, o morador “antipático” é reconhecido, mas em alguns momentos pode incomodar por ser indiferente e de convívio mais individualizado. Quem é esse cara que ta circulando a rua! Fulano é besta, não fala ou se mistura com ninguém! (fala de um morador do bairro estudado). Desconhecido, o estranho invade a privacidade de um público (moradores) que preza pelo bom convívio social. “A proximidade espacial cria um conhecimento mútuo pelo menos aproximativo: quem não é conhecido parece intruso”. (Antoine Prost 1992 p.116). O estranho, do mesmo modo como o estrangeiro descrito por Simmel (1989) é aquele que ninguém conhece, que ninguém pode nunca ter visto, mas todos sabem quem é ele. Assim também é o “antipático”, todos sabem quem é ele, não por ser estranho, mais por ser impessoal e preferir a individualidade do espaço privado da casa.