Estamos vivendo um tempo onde as pessoas estão perdidas com muitas dúvidas em relação a si mesmas e, principalmente em relação à sua fé.
Acreditar no que? Com tantas alternativas, dar crédito a quem?
E essas dúvidas acabam acarretando uma série de problemas, levando algumas até a loucura ou a viver uma vida decepcionada consigo mesma ou servindo a deuses estranhos.
Diante desse quadro, faz-se necessário o Ministério de Intercessão estar atento a não ficar apenas orando por aquilo que as pessoas pedem, mas buscar no Espírito Santo o que realmente elas estão precisando.
Quando uma pessoa está desorientada espiritualmente, ela sofre de quase todos os males, por não entender de onde vem as lutas e dificuldades que passa.
É por essa causa que o papel de CONSELHEIRO se torna vital para o bom andamento das atividades intercessórias.
ONDE DE ENQUADRA O CONSELHEIRO?
Quando o Líder de Intercessão recepciona um pedido de oração ou um P.A.I. (Pedido de Atendimento Intercessório), ele deve buscar discernimento em relação ao que está sendo pedido, e no caso de dúvidas ou direção de Deus, esse pedido deve ser enviado para um CONSELHEIRO.
Esse CONSELHEIRO, entrará em contato com a pessoa, e iniciará um entrevista, seja por celular, online ou pessoalmente, para identificar o que realmente está acontecendo com ela.
A partir dessa conversa, que pode ser em pouco tempo ou dias ou até semanas, o CONSELHEIRO, procurará identificar a verdadeira causa do problema que a pessoa está sofrendo, e poderá indicar algumas soluções, ou, direcioná-la com maior certeza a alguns ESPECIALISTAS que melhor lhe atenda nas suas necessidades.
A importância do CONSELHEIRO é encurtar caminho, direcionar corretamente e evitar perdas por conclusões erradas no momento do direcionamento para as especializações.
COMO SER UM CONSELHEIRO?
Os conselheiros deve ser uma pessoa que tenha intimidade com o Espírito Santo, e que desenvolva os dons de Palavra de Conhecimento Discernimento de Espíritos, e, principalmente, Palavra de Sabedoria
Eles têm uma paixão por entender quem é Deus e como Ele opera em nossa vida. Os conselheiros apostólicos colocam-se fielmente na linha de fogo.
Eles estão dispostos a arregaçar as mangas e participar no plano de Deus para ajudar outros a crescerem à imagem de Jesus Cristo (Rm 8.29).
No entanto, a utilidade dos conselheiros depende diretamente do seu relacionamento crescente com o Senhor.
Como os conselheiros podem aconselhar as pessoas de maneira eficaz e adequada com a Palavra de Deus?
Eles devem conhecer bem a Bíblia para ter uma cosmovisão bíblica em contraposição à cosmovisão secular.
Eles também devem viver aquilo que conhecem.
Os conselheiros não só devem conhecer o evangelho, mas saber como aplicar o evangelho em primeiro lugar à própria vida.
Só então é que podem ajudar e incentivar os aconselhados a deixarem que o evangelho mude sua vida.
Para aconselhar outros de modo efetivamente bíblico, o conselheiro deve ser alguém que cultiva ao menos cinco disciplinas espirituais fundamentais: a dependência do Espírito Santo, a dependência da oração, a dependência da Palavra de Deus, a dependência da adoração e a dependência da comunhão com a igreja.
1—O conselheiro deve depender do Espírito Santo
Os conselheiros não devem esquecer que o aconselhamento bíblico é uma batalha no reino espiritual (Ef 6.12) e é obra do Espírito Santo (Jo 14.16-17).
Em primeiro lugar, os conselheiros devem compreender a obra do Espírito e ver esta obra acontecer em sua própria vida.
É bem fácil para os conselheiros bíblicos operar a partir do intelecto humano na aplicação das verdades espirituais para depois dar-se conta de uma ausência do poder de Deus em ação no ministério.
Os conselheiros devem depender do poder do Espírito Santo para guiá-los em toda a verdade (Jo 16.13) e para ajudá-los a aconselhar no Espírito e não na carne (Rm 8 e 9).
Em segundo lugar, os conselheiros devem depender do Espírito Santo para operar mudanças essenciais e elementares no coração humano.
Sem a dependência do Espírito Santo, os conselheiros conhecerão o desânimo, a frustração e o fracasso, além de que o processo de aconselhamento será simplesmente mais uma versão do aconselhamento secular.
Somente o Espírito Santo pode dar o discernimento espiritual e a motivação para a mudança bíblica permanente no coração.
A total dependência do Espírito Santo é vital para que os conselheiros bíblicos possam conduzir efetivamente a própria vida e aconselhar outras pessoas.
2—O conselheiro deve depender da prática de orar
A dependência da prática de orar é essencial para os conselheiros bíblicos.
Propositadamente não usei a palavra “oração”, pois ela se tornou um termo um tanto banalizado.
É uma palavra que os cristãos têm espiritualizado a ponto de parece que não tem mais significado nem poder algum.
Os conselheiros sabem que precisam orar por eles mesmos e pelos seus aconselhados.
No entanto, é comum que apenas sussurrem uma rápida oração “Ajude-nos Senhor” momentos antes de iniciar o encontro com o aconselhado.
Por que falta aos conselheiros uma maior dependência da prática de orar? Algumas possibilidades são:
orar é algo tomado por certo,
orar exige humildade,
orar exige tempo.
Em primeiro lugar, os conselheiros podem tomar por certo a prática de orar, e não lhe dar a devida importância.
Eles sabem que foram capacitados e chamados por Deus para aconselhar outros crentes.
Eles têm a expectativa de que Deus esteja sempre disponível para ajudá-los quando aconselham.
Eles já presenciaram o poder de Deus operando por meio deles mesmo quando eles não estavam adequadamente preparados para um encontro de aconselhamento.
Talvez eles até tenham reconhecido e agradecido a Deus no final daquele encontro.
Em segundo lugar, eles não podem deixar de depender da prática de orar porque ela exige humildade.
O ato de orar demonstra que nós não temos poder para vencer nosso próprio pecado, e muito menos para levar o aconselhado a vencer seu pecado.
À medida que crescem em conhecimento e experiência no processo de aconselhamento, os conselheiros bíblicos podem depender mais e mais da própria experiência.
Eventualmente, eles ficarão “perplexo” no meio de um encontro, entrarão em pânico, sem saber o que dizer em seguida.
Finalmente, cairão em si e deverão confessar o seu orgulho, reconhecendo em seu coração que eles não podem aconselhar sem uma total dependência do Espírito Santo por meio da oração.
Em terceiro lugar, os conselheiros podem deixar de depender da prática de orar porque ela requer tempo.
O ministério de aconselhamento envolve tanto os conselheiros quanto os aconselhados.
Os conselheiros devem orar por eles mesmos, por seus problemas pessoais.
Eles são exatamente como seus aconselhados – pecadores salvos pela graça. Os conselheiros lutam pessoalmente com as mesmas questões de pecado com as quais os aconselhados também têm de lidar.
Eles devem investir tempo para orar sobre os problemas de seu coração a fim de estarem livres para aconselhar os outros. Por outro lado, após a coleta de dados, os conselheiros teriam com que se ocupar pelo restante da vida, orando por todas as questões apresentadas pelos aconselhados — isso é muito tempo! Pensar nos problemas dos outros pode ser devastador e pode, sim, consumir muito tempo.
Esse peso faz com que muitos conselheiros bíblicos descartem a prática de orar.
Os conselheiros devem depender da prática de orar porque a vida cristã o exige.
O ato de orar reconhece que o Deus Todo-poderoso está no controle de nossa vida.
Ela reconhece que não temos em nós mesmos o poder para produzir uma mudança de coração.
Orar também pode ser a melhor maneira de economizarmos tempo, pois o Espírito Santo nos dá sabedoria e orienta em nossa oração.
3 — O conselheiro deve depender da Palavra de Deus
Os conselheiros bíblicos são os paladinos da Palavra de Deus.
Eles estão entre os maiores advogados, patrocinadores, defensores da Palavra de Deus.
O próprio título “bíblico” significa que eles usam a Bíblia como A ferramenta para o aconselhamento.
Eles investem muitas e muitas horas no estudo das Escrituras para se tornarem conselheiros bíblicos.
Com todo esse foco voltado para a Bíblia, como podem os conselheiros bíblicos chegar ao ponto de não depender da Palavra de Deus?
Infelizmente, isso pode acontecer quando os conselheiros bíblicos dependem mais dos livros sobre aconselhamento bíblico e outros recursos do que da Palavra de Deus.
Atualmente, mais e mais livros e recursos sobre como aconselhar estão à nossa disposição.
Há recursos sobre temas específicos que você pode pegar e ler antes de um encontro de aconselhamento ou simplesmente entregar ao aconselhado para que ele leia em casa.
Esses recursos são muito bons, pois alguém investiu tempo para estudar a Palavra de Deus e nos ensinar como aplicá-la a um problema específico.
Infelizmente, estes excelentes livros e recursos podem acabar substituindo o estudo pessoal da Palavra de Deus na vida dos conselheiros bíblicos ocupados.
Em 2Timóteo 3.16, 17, Paulo nos diz: “Toda a Escritura é divinamente inspirada e proveitosa para ensinar, para repreender, para corrigir, para instruir em justiça; a fim de que o homem de Deus tenha capacidade e pleno preparo para realizar toda boa obra”.
Para que 2Timóteo 3.16, 17 seja uma realidade na vida dos conselheiros, eles devem fazer o trabalho por si mesmos.
O estudo pessoal da Palavra de Deus é vital para que os conselheiros bíblicos atuem com eficácia na própria vida e no ministério de aconselhamento.
Não permita que os livros e recursos sobre aconselhamento bíblico sejam atalhos no processo de usar a Palavra de Deus no aconselhamento, mas deixe que eles completem o seu estudo pessoal da Palavra.
4 — O conselheiro deve depender da adoração
Os conselheiros devem ser conselheiros que adoram como a Bíblia ensina.
Provavelmente esse não é o primeiro pensamento que nos vem à mente ao descrever um conselheiro bíblico, mas ele deve estar nesta lista das cinco disciplinas espirituais fundamentais para os conselheiros bíblicos!
Os conselheiros bíblicos devem depender da adoração porque Deus requer isso.
João 4.23, 24 afirma: “Mas virá a hora, e de fato já chegou, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai no Espírito e em verdade; porque são esses os adoradores que o Pai procura.
Deus é Espírito, e é necessário que os que o adoram o adorem no Espírito e em verdade”.
Os conselheiros devem depender da adoração porque:
A adoração bíblica tem seu centro em Deus.
Ela é uma expressão de nosso amor a Deus que vem do coração.
Não é um item a mais na nossa lista de tarefas, uma ação notável ou um dever.
A adoração bíblica altera radicalmente nossa vida.
Ela nos leva a ver o amor de Deus como mais real, mais gratificante e mais bonito do que qualquer outro amor (Mateus 14.33).
A adoração bíblica é libertadora.
Ele remove os ídolos que controlam o nosso coração.
Ela nos permite morrer para aquelas coisas que nos controlam, colocando a nossa vontade, as emoções e a mente em Cristo (Salmo 57).
A adoração bíblica cura-nos.
Ele reordena os nossos valores, conformando-os aos valores de Deus.
Ele substitui a ansiedade, a depressão, o medo e os vícios, entre outros mais.
A adoração bíblica é eficaz.
Ela determina o significado e propósito de nossa vida.
As influências do nosso eu e de Satanás enfraquecem-se quando adoramos a Deus (Mateus 4.9-11).
5 — O conselheiro deve depender da comunhão com sua igreja
Os conselheiros dependem da comunhão com a igreja porque o aconselhamento bíblico nasce na igreja.
A igreja tem a responsabilidade de equipar os santos para a obra do ministério visando à edificação do corpo de Cristo (Efésios 4.12).
No entanto, os cristãos lutam com a tentação de viver de forma independente.
Tanto os conselheiros bíblicos quanto os seus aconselhados lutam com construir seu próprio reino na terra.
No fim, eles descobrem estar em uma ilha deserta, que pensavam ser o seu reino.
A comunhão com a igreja é o relacionamento entre os crentes em Jesus Cristo, na unidade no Espírito (João 17. 23), para ajudar a construir o reino de Deus.
Os conselheiros bíblicos precisam inicialmente reconhecer sua dependência de uma igreja local firme, bíblica e amorosa, onde eles são espiritualmente edificados e protegido de uma autodestruição.
Ali eles são equipados para admoestar os insubmissos, encorajar os desanimados, ajudar os fracos, sendo pacientes para com todos (1Tessalonicenses 5.14).
A dependência da comunhão com a igreja oferece o benefício mútuo do “ferro que afia o ferro” (Provérbios 27.17).
O relacionamento entre os conselheiros bíblicos e os seus aconselhados é uma imagem bonita dos meios da graça divina na comunhão da igreja.
Não basta dizer-se vocacionado para o ministério pastoral ou para o ministério do aconselhamento para ser bem sucedido nestas atividades. Ser vocacionado não é uma garantia de que as coisas darão certas.
Prova disso é o grande número de ministérios que dá errado e de igrejas com problemas muitas vezes causados por pastores. E, da mesma forma, de conselheiros que não conseguem ajudar as pessoas. Há algo mais além da chamada e da boa vontade em fazer a obra.
Ter consciência da chamada da parte de Deus e manter uma vida de comunhão com ele ajudam muito ao obreiro. Mas ter o preparo necessário também ajuda muito. Ninguém negará que Pedro foi chamado e usado por Cristo. Mas a sombra projetada pelo ministério de Paulo foi maior que a projetada por Pedro. Inteligência e preparo postos a serviço de Cristo é uma bênção.
O conselheiro bíblico precisa ser bem preparado. Tanto na área de estudo sobre o assunto e sobre a Palavra de Deus, como na área do preparo emocional. O emocional e o espiritual devem caminhar juntos, principalmente na vida de quem cumpre a tarefa de ajudar o povo de Deus. Por isso, é sempre oportuno lembrar, o primeiro dever do obreiro cristão é cuidar de si mesmo.
É triste a palavra da sunamita em Cânticos 1.6: “Puseram-me por guarda de vinhas, mas a minha vinha não guardei”.
Guarde a sua vinha! Seja uma pessoa que busca a maturidade espiritual e emocional. Invista em si mesmo.
1. O PERFIL DO CONSELHEIRO
Muitos aspectos do perfil do conselheiro poderiam ser alistados aqui, mas ressaltemos os principais à nossa tarefa de líderes cristãos.
O primeiro deles é empatia.
A palavra vem da mesma raiz de “simpatia” e de “antipatia”. Simpatia é sentir na mesma direção, sentir com. Antipatia é sentir contra. Sobre empatia, o prefixo grego en nos esclarece: é “sentir dentro”, “sentir como se fosse a pessoa”. A simpatia pode ser entendida como uma ternura, mas a empatia é uma profunda compaixão que nos faz colocar-nos no lugar daquela pessoa. O fundador do cristianismo foi a maior manifestação de empatia que o mundo já viu: “O Verbo se fez carne” (Jo 1.14). Deus foi empático conosco, na pessoa de Jesus. Empatia tem a ver com compaixão. O Salvador era profundamente empático, porque era profundamente compassivo: “Vendo ele as multidões, compadeceu-se delas, porque andavam desgarradas e errantes, como ovelhas que não têm pastor” (Mt 9.36). E este é um conselho bíblico para todos os cristãos: “Alegrai-vos com os que se alegram; chorai com os que choram” (Rm 12.15). Somos exortados a experimentar e partilhar os sentimentos dos irmãos. O autor de Hebreus aconselhou a comunidade cristã nos seguintes termos: “Lembrai-vos dos presos, como se estivésseis presos com eles, e dos maltratados, como sendo-o vós mesmos também no corpo” (Hb 13.3). O conselheiro cristão deve ter este sentimento bem aguçado. Ele não é juiz nem um crítico, mas um ajudador. E um ajudador com compaixão.
Não somos profissionais que atendem a pessoa, ouvem-na sem experimentar emoção alguma (algumas vezes bocejando de indiferença), e depois apenas perguntam: “Sim, o que você pensa em fazer sobre isso?”. Somos pessoas que amam a Deus, que amam o povo de Deus e que servem a Deus servindo a seu povo. E mostramos nosso amor a Deus no amor ao seu povo. Empatia é mais uma postura que adotamos que um sentimento que experimentamos. É sentir com a pessoa. A frieza ou a indiferença é mortal no trabalho do conselheiro.
“É possível ajudar as pessoas mesmo sem compreendê-las inteiramente, mas o conselheiro que consegue transmitir empatia (principalmente no início do processo terapêutico) tem maiores chances de sucesso” . Ouvi um pastor psicólogo criticar um pastor que chorou no sepultamento de uma de suas ovelhas, dizendo que ele era um amador e que não sabia controlar as emoções. O pastor que chorou não se descontrolou, não surtou nem se mostrou histérico. E merece elogios exatamente porque não foi um profissional de religião, mas um amador. Benditos sejam os amadores assim!
O segundo é respeito.
Por vezes a pessoa chega e abre o seu coração, contando-nos um pecado que julgamos ser escabroso (e às vezes é mesmo). Então ficamos chocados com a revelação e mostramos à pessoa que não esperávamos aquilo da parte dela. Ou ela nos ataca ou ataca alguém da igreja.
Respeito significa valorizar a pessoa, não a vendo como uma coitadinha ou uma leprosa moral ou espiritual. É vê-la como sendo uma pessoa, imagem e semelhança de Deus, valiosa aos olhos do Senhor, que no momento passa por uma crise e veio lhe pedir ajuda. Não esfregue sal e pimenta nas feridas dela. Respeite seu desabafo, suas atitudes, e sua postura. Isto é diferente de aceitar um comportamento errado. É respeitar a pessoa que está querendo ajuda como pessoa. Não é um traste. Lembremos que Paulo recomendou que apoiássemos aqueles que estão fracos.
O terceiro é sigilo.
O que um conselheiro ouve deve morrer com ele. Ele não passa para frente nem mesmo com pessoas interessadas no assunto. Muitas vezes alguém procura um conselheiro e depois uma pessoa da família ou do relacionamento com esta pessoa vem perguntar o que foi dito.
Geralmente deve se negar, dizendo que o que a pessoa me contou pertence ao sigilo. Se quiser saber, que o indagador lhe pergunte.
Lembre-se que comentar o que lhe foi dito em confiança acabará não apenas com sua atividade, mas com seu caráter. E você terá traído quem confiou em você. Poucas coisas são tão ruins para um pastor ou para um conselheiro que ser conhecido como fofoqueiro, como alguém que passa para frente coisas que ouviu em confidência. Há pastores que contam de púlpito experiências de gabinete. Não citam o nome da pessoa, mas deixam pistas claras de quem sejam. Isto é muito ruim.
Abrir o coração com alguém é tarefa difícil. Muitas vezes é um desnudar da alma, e é doloroso para a pessoa. Já ouvi muitos casos tristes e dolorosos em gabinete, desde violência sexual que uma criança sofreu por parte de pai até o uso de drogas por líderes da igreja. Por vezes, o peso era esmagador e eu me sentia deprimido, querendo um buraco para me enfiar. Mas sabia que não podia partilhar com ninguém. Um conselheiro deve ser sigiloso. Por isso que deve ser uma pessoa que cuide de sua vida espiritual e se fortaleça, sempre, com o Grande Conselheiro, Deus. É a vinha dele que ele deve guardar.
O quarto é sobriedade.
O Novo Testamento faz várias referências à sobriedade. Nós é que pouco mencionamos esta virtude cristã. Há líderes que amam holofotes ou são pouco discretos. Têm grande necessidade de atenção. Jesus exortou à discrição na vida espiritual, quando deixou recomendações sobre a oração e o jejum. Sobriedade tem a ver com discrição. Não se faz alarde de que estamos ajudando alguém. O trabalho do conselheiro é um trabalho de bastidores, que se faz nos bastidores, e não em público. Como o aconselhamento envolve questões emocionais, e por vezes delicadas, o conselheiro deve lembrar que a imagem do aconselhando deve ser poupada. Repreensão pública ou conselhos dados em voz alta prejudicam muito. Ninguém precisa ouvir a conversa. Por isso, quando atender, fale baixo. Uma das tarefas do conselheiro é ajudar a pessoa a ser madura e tomar decisões por si, orientada pelo Espírito Santo. Outra tarefa é levantar a pessoa. Neste sentido, expô-la em público, como alguém tutelado, é prejudicial. Somos conselheiros e não pais de criancinhas travessas que devem ser chamadas à atenção.
Há conselheiros que gostam de publicidade para que os demais vejam como ele é importante ou como está sendo usado por Deus.
“Caso Deus seja o centro de nossa vida, ele tem um plano para nossa existência, e se ele nos delegou a posição de psicoterapeutas, devemos usá-la para enaltecimento do nome de Deus, e não para o nosso engrandecimento pessoal”.
Sobriedade é esta característica assumida de que somos apenas instrumentos, a glória é de Deus, fazemos o que temos que fazer e saímos de cena, sem esperar aplausos ou reconhecimento. O conselheiro não faz alarde do seu trabalho. A vaidade sempre é notada, sempre desgasta o vaidoso e geralmente cobra um preço muito elevado. E as pessoas que aconselhamos não devem ser vistas como troféus a exibir.
O quinto é desprendimento.
Isso significa que o conselheiro não deve levar vantagem na tarefa de aconselhar. Por vezes, o conselheiro é profissional, um psicólogo ou outro tipo de terapeuta. Neste caso, ele cobrará consultas. O levar vantagem, neste contexto, significa que o conselheiro não usa as informações que recebe, nem antes nem depois do processo de aconselhamento.
Suponhamos que o conselheiro seja o pastor ou o líder de um trabalho. Um irmão o procura e lhe revela um problema e pede ajuda. Não será justo o conselheiro divulgar publicamente uma possível incapacidade da pessoa para o exercício de uma função para a qual ela vier a ser indicada. Evidentemente que se for um caso grave, como uma pessoa que tenha tendências pedófilas sendo indicada para cuidar de crianças, o conselheiro precisará agir. Mas isso exige cautela. A questão principal é de ordem pessoal: não levar vantagem. Não impugnar a pessoa para um cargo ou função porque tem outro nome que é seu preferido ou porque o ambiciona, etc. Deve se lembrar também que Cristo pode transformar uma vida e que um pecado que uma pessoa cometeu no passado não será, necessariamente, cometido outra vez pela pessoa.
O sexto é capacitação.
Trata-se da capacitação para o serviço a desempenhar e da capacitação espiritual para poder desempenhar o serviço. Precisamos ter em mente que nenhum de nós, como líder cristão, é um produto acabado.
No que se presume ser sua última carta, já idoso, Paulo pede a Timóteo: “Quando vieres, traze a capa que deixei em Trôade, em casa de Carpo, e os livros, especialmente os pergaminhos” (2Tm 4.13). Os especialistas distinguem entre “livros” e “pergaminhos”. O primeiro termo aludiria a obras seculares, e o segundo teria o sentido de livros canônicos, isto é, os escritos sagrados. Ele está detido na cadeia, e prestes a ser executado, mas ainda quer os livros. O obreiro cristão em geral e o conselheiro em particular sempre devem querer crescer. Adquirir livros, ouvir palestras, fazer cursos, tudo isso ajuda muito o conselheiro. Mas o preparo espiritual nunca pode ser negligenciado.
“Orar por si mesmo e colocar-se nas mãos de Deus para prestar uma ajuda afetiva”. Desempenhamos uma atividade espiritual e nunca podemos nos esquecer disso. A autoridade espiritual que vem da comunhão com Deus e da submissão à sua Palavra é sempre notada na vida de quem a tem. E quem a tem não precisa alardear.
2. ALGUMAS ATITUDES NECESSÁRIAS AO CONSELHEIRO
Tendo considerado algo do perfil do conselheiro, vejamos algumas atitudes que ele deve tomar quando exerce seu papel.
1. Ele deve proceder sem preconceito quando aconselha.
Pode ser que a pessoa aconselhada esteja em pecado e deva ser orientada quanto a isso, mas não compete ao conselheiro, como conselheiro, condená-la. No aconselhamento não se prega. Conversa-se e se mostra à pessoa a situação em que ela se encontra e as alternativas a tomar na sua vida. Em outras ocasiões, o conselheiro administrará conflitos de relacionamentos entre partes. Deve evitar se posicionar contra um ou contra outro. Ele deve ser uma ponte e não um juiz. Pode ser que a questão esteja bem clara e ele tenha uma posição bem definida, mas deve se lembrar que está ali para conciliar partes.
2. Ele deve evitar dar ordens.
Inconscientemente, o conselheiro tem o desejo de dominar e exercer controle na vida da pessoa aconselhada. Até porque se sente em condições de orientar a outra parte. Nosso papel é levar a pessoa a ver a vontade de Deus para sua vida. E precisamos ser humildes para reconhecer que nem sempre a vontade de Deus é a nossa, como conselheiros. Podemos mostrar à pessoa as opções e as conseqüências das opções, mas deve ser deixada com ela a decisão a tomar. É assim que ela amadurecerá. Quando dizemos às pessoas o que fazer, elas criam dependência emocional. E isto não é bom. O conselheiro poderá dizer que executou bem sua função quando a pessoa chegar a um ponto em que o aconselhado não mais precisar mais dele como orientador. Essa idéia de “guru” ou de um mentor que tutoreia a pessoa a por toda sua vida não é uma medida salutar. É antibíblica. Conforme Efésios 4.13, o exercício de dons na igreja é para que os crentes cheguem “ao estado de homem feito, à medida da estatura da plenitude de Cristo” (Ef 4.13). Conduzir alguém pela mão por toda a vida não faz desse alguém uma pessoa neste patamar de adulto em Cristo. Há muito manipulador querendo ser mentor.
3. O conselheiro deve cultivar objetividade e não ser envolvido emocionalmente.
Não confunda as coisas nem tente fazer “pegadinhas”, dizendo que isto é o oposto da empatia mostrada como necessária. Terapeutas profissionais não devem aconselhar parentes ou pessoas a eles ligadas emocionalmente. Sua análise sempre será prejudicada porque terá envolvimento emocional. Há uma linha divisória entre empatia e envolvimento emocional. A empatia é produto da misericórdia cristã. O envolvimento sucede quando o conselheiro se sente perturbado porque aquilo o atinge diretamente. Por vezes, ele está passando por um problema semelhante ao que a pessoa que lhe procura está passando e sente desnorteado, ou sem condições de fazê-lo. Não é errado um conselheiro ter problemas e passar por lutas, é preciso dizer neste contexto. O problema é quando o aconselhando está numa situação idêntica e o conselheiro sente que está sem condições.
A eficácia do aconselhamento, neste caso, será reduzida. Ao mesmo tempo, em contrapartida, o conselheiro poderá ver nesta situação como a pessoa está sofrendo. Mas sua orientação poderá ser apenas um reflexo do que ele faria. E as pessoas reagem de maneira diferente. O conselheiro poderá mostrar um caminho que ele tem condições de percorrer, mas talvez a outra pessoa não tenha. Ele precisará refletir bastante, orar e ter humildade para, se for o caso, dizer à pessoa que naquele momento não poderá ajudá-la. Se tiver certeza de que estará mais capacitada exatamente por estar vencendo o problema, deve ajudar. Mas se estiver sendo abatida pelo problema, terá pouco o que dizer. E deverá ter a humildade de reconhecer isto.
4. Saber filtrar o que está sendo dito.
Nem sempre as palavras revelam. Por vezes mascaram. Para filtrar bem, o conselheiro precisa de um bom filtro (ou um coador). É oportuno lembrar que vivemos numa sociedade massificada pelo egoísmo e que as pessoas, em sua maior parte, têm motivações egoístas. Até mesmo na área espiritual. O conselheiro precisa ter um bom parâmetro para avaliar e orientar. Por exemplo: qual é a finalidade da vida? É a busca de felicidade? É o que as pessoas buscam, e o que muitas pregações sinalizam. Mas é este o propósito de Deus para nós?
Um problema muito sério é que os crentes estão buscando felicidade, e não mais santidade, como se pudessem ser felizes à parte de sua comunhão com Deus. Com esta visão, a vida cristã passa a ser a busca de satisfação de necessidades pessoais (algumas irrelevantes e supérfluas). É um conceito mundano. Assim, o trabalho do conselheiro passa a ser mais o de um terapeuta secular, levando as pessoas a se aceitarem como são e a buscarem necessidades muitas vezes mundanas, que um servo cristão que ajuda os crentes na sua caminha a uma vida mais profunda com Deus. Muitos dos problemas espirituais e emocionais não estão ligados à área espiritual ou da vontade de Deus, mas a projetos pessoais que os indivíduos têm, muitos deles modelados pelo padrão do mundo. Eles não alcançam tais projetos e se frustram. Tenho observado, em quarenta anos de ministério (o que não me torna infalível, mas me faz entender muitas coisas) que grande parte da aflição dos crentes é por coisas das quais não precisam e sem as quais pode viver. Mas deixam-se modelar pela massificação mundana de uma sociedade materialista que espiritualmente é decadente. Eles querem ser como o mundo. E querem as coisas que o mundo quer.
O conselheiro deve ter em conta que lidará com muitas pessoas que têm problemas por causa de necessidades que não devem ser atendidas.
Os conselheiros cristãos devem ser sensíveis à profundidade do egoísmo na natureza humana. É temerosamente fácil ajudar alguém a atingir um alvo não-bíblico. É nossa responsabilidade, como membros do mesmo Corpo, continuamente recordar e exortar uns aos outros a fim de manter em vista o alvo de todo verdadeiro aconselhamento: libertar as pessoas para que possam melhor adorar e servir a Deus, ajudando-as a se tornarem mais semelhantes ao Senhor. Em suma, o alvo é maturidade. [
A atividade de aconselhar biblicamente não é a de dar pirulitos a crianças frustradas, mas ajudar as pessoas a entenderem o propósito de Deus para a vida delas. Há uma diferença enorme entre desejos e necessidades. É preciso saber a distinção entre os dois. E o conselheiro, algumas vezes, terá que levar a pessoa a entender isso.
CONCLUSÃO
Como intercessores que querem o bom andamento da obra de Deus, podemos cair num estado emocional comum a muitos: a impaciência por não vermos os frutos imediatos do nosso trabalho. Orientamos uma pessoa com zelo e bastante cuidado, mas vemos que apesar de nossa orientação ser clara ela continua apresentando as mesmas falhas. Lembremos que muitas vezes o problema vem se arrastando há tempos, e a pessoa demorou a pedir auxílio. Desconstruir o que foi construído de maneira errada e reconstruir de maneira certa nem sempre se consegue em prazo curto.
Muitos conselheiros ficam desanimados e até ansiosos quando não vêem progresso imediato em seus aconselhandos. Os problemas geralmente levam muito tempo para se desenvolverem e presumir que eles desaparecerão rapidamente por causa da intervenção do conselheiro não é uma postura muito realista. Mudanças instantâneas acontecem, mas são raras. O mais comum é levar um tempo até que o aconselhando abandone sua maneira de pensar e seu comportamento anteriores, substituindo-os por algo novo e melhor.
Assim sendo, não se culpe se não vir resultado imediato ou se a pessoa custar a aceitar sua orientação. Sua missão não é produzir resultados, mas fazer o melhor que puder, na dependência do Espírito Santo. O resto compete a Deus, que fará a obra no tempo dele. Que sempre é o certo.
“Procura apresentar-te a Deus, aprovado, como obreiro que não tem de que se envergonhar, que maneja bem a palavra da verdade” (2Tm 2.15).
As palavras de Paulo ao jovem Timóteo aplicam-se a todo cristão e, em especial, a quem ministra na área do discipulado e aconselhamento bíblico.
Isso porque o conselheiro bíblico não deve ser alguém cujo conselho é apenas influenciado pelas Escrituras, mas alguém cujo conselho é determinado pelas Escrituras.
A Bíblia não é apenas um acessório no seu aconselhamento
Deus nos deu a Bíblia para que pudéssemos conhecê-lO e fazer a Sua vontade aqui na terra. A Bíblia não foi escrita meramente para nossa informação, mas para transformação. “Pois tudo quanto, outrora, foi escrito para o nosso ensino foi escrito, a fim de que, pela paciência e pela consolação das Escrituras, tenhamos esperança” (Rm 15.4). A Bíblia dirige-se a todas as áreas da vida e deve se constituir no próprio conteúdo do seu aconselhamento. No entanto, não é um manual mágico em ordem alfabética de “como consertar os problemas e ser feliz”. Encontramos na Bíblia narrativas, poesias, mandamentos, profecias e promessas, cartas — ela não é uniforme, mas ela é unificada. A Bíblia aponta para uma Pessoa, Jesus Cristo como Redentor e Senhor, e para o relacionamento com Ele. A transformação real e duradoura em nossa vida acontece quando aprendemos a ver a nós mesmos e nossos problemas à luz de quem Deus é, do que Cristo fez e faz em nós, e no contexto do nosso relacionamento vital com Cristo. Abrir a Bíblia no aconselhamento não é apenas ir em busca de instruções e ilustrações, mas é encontrar-se com uma Pessoa.
Usar a Bíblia de modo superficial e simplista, deixando muitas vezes de representar corretamente o que Deus diz na passagem a que nos referimos, é indesculpável. Alguém que não sabe interpretar devidamente a Palavra de Deus não sabe aconselhar biblicamente. É errado identificar-se como conselheiro bíblico e ao mesmo tempo não levar em consideração um estudo sério da Palavra. […] Visto que somos tão estultos, pecadores, preguiçosos e cegos, com frequência temos dificuldade para extrair as verdades bíblicas. Uma leitura superficial da Bíblia não é suficiente. Devemos estudar a Bíblia com seriedade. Incomoda-me a palavra devocional. Quando as pessoas mencionam um estudo devocional da Bíblia, não sei o que estão querendo dizer. Receio que freqüentemente eles queiram dizer: “Vou fechar minha mente para aquilo que a passagem possa significar ou que todos os comentários possam me ajudar a entender. Vou me limitar a permitir que as palavras penetrem lentamente em meu ser, e então filtrar algo que possa ser útil para mim. Seja ou não aquilo que Deus tencionava de fato dizer, de alguma maneira me fará bem”. Quero encorajá-lo a um estudo devocional da sua Bíblia, em lugar de fazer um uso meramente superficial das Escrituras. Quando for à Palavra de Deus, você nunca deve fechar a mente ao estudo. Pelo contrário, deve ir com toda sua perspicácia e habilidade para entender o verdadeiro âmago da passagem. Invista tempo pensando no significado do texto bíblico. Insista até conseguir. Então agradeça a Deus pelo entendimento e aplique-o à sua vida de modo a aumentar sua devoção a Deus. Faça um estudo devocional da Bíblia dedicando-se a um estudo intensivo dela.
O grande desafio: observar o texto e interpretar corretamente para poder aplicar à sua vida e estabelecer uma conexão com a vida do seu aconselhado.
A leitura da Bíblia dia após dia faz com que seu conteúdo se torne extremamente familiar para nós. A memorização de versículos bíblicos faz com que eles se tornem parte da nossa maneira de pensar e estejam prontos para uso tanto na vida pessoal quanto ministerial. No entanto, devemos ir além da leitura e da memorização. A Bíblia é um livro sobre o qual devemos nos debruçar em estudo, com humildade e pedindo em oração que Deus abra nosso entendimento para a Sua verdade e nos dê um coração disposto a aplicá-la.
Temos ferramentas que nos ajudam nesse trabalho, mas antes de ir aos comentários bíblicos para verificar o trabalho que outros já fizeram, devemos estudar pessoalmente o texto Bíblico para extrair as verdades que devem guiar o viver cristão e precisam ser comunicadas no processo de discipulado e aconselhamento bíblico. Não vá aos comentários bíblicos sem antes ter observado e estudado o texto. Leve as suas perguntas aos comentários e, o quanto possível, consulte mais de um comentário. Para o conselheiro bíblico, são particularmente úteis os comentários que estudam e expõem o texto bíblico em detalhes e o aplicam à vida.
OBSERVAR
Para iniciar, é preciso fazer algumas perguntas básicas de observação para identificar o que a passagem diz:
• Qual é o assunto principal da passagem?
• Quem são os personagens?
• Qual é o cenário?
• O que está sendo dito e a quem?
• O que este texto fala a respeito de Deus? O que fala a respeito de Cristo?
• Quais são as palavras chaves no texto? Quais palavras são repetidas com frequência?
• Existem contrastes e comparações no texto?
• Qual é o fluxo de pensamento do autor? Preste atenção às conjunções “mas”, “portanto”, “para que”, “porque”, entre outras.
INTERPRETAR
Os passos seguintes aprofundarão o estudo iniciado com a observação da passagem, conduzindo à correta interpretação daquilo que o autor quis comunicar aos seus ouvintes originais. É importante que você lembre que cada texto bíblico tem um significado único e específico, o que implica que tem uma interpretação única e específica.
Tempo e história, geografia, cultura. O objetivo inicial do estudo cuidadoso da Palavra de Deus é identificar o sentido correto do texto na época em que ele foi escrito para que possamos aplicar com precisão nos dias de hoje. A Bíblia começou a ser escrita aproximadamente um século e meio antes de Cristo, na Palestina. Por volta do ano 400 a.C., foi escrito o último livro do Antigo Testamento – Malaquias. Já o Novo Testamento teve o seu primeiro livro escrito por volta do ano de 45 d.C. e o último, perto do ano 95 d.C. Precisamos ainda lembrar que o Antigo Testamento foi escrito dentro das culturas judaica, egípcia, assírio-babilônica e persa. A cultura judaica dos tempos de Jesus é o cenário para o entendimento dos evangelhos. Atos e as epístolas devem ser entendidos à luz da cultura greco-romana dos primeiros séculos. A primeira pergunta que devemos fazer ao ler a Bíblia não é “O que é que isto significa para mim?”, embora seja provavelmente essa a pergunta que boa parte dos seus aconselhados costuma fazer. A pergunta correta é: “O que o autor está querendo dizer para o seu público?”. É preciso que você dê atenção ao contexto histórico-cultural, e ajude o seu aconselhado também a fazer perguntas importantes que o ajudarão, mais adiante, a aplicar corretamente a Palavra de Deus à sua situação de vida: Quem escreveu esse livro? A quem foi escrito? Quando foi escrito? Que fatores históricos e culturais motivaram e emolduraram sua escrita?
Idioma e gramática. Aos três primeiros aspectos, junta-se um terceiro. Embora tenhamos em mãos a Bíblia em nosso idioma, o texto inspirado foi escrito originalmente em hebraico, aramaico e grego koiné. Os leitores originais compreendiam o texto com facilidade. Hoje, para transpormos o abismo do idioma, precisamos considerar o significado que as palavras tinham no tempo do autor e como as palavras e frases se relacionavam umas às outras naquele idioma. As traduções da Bíblia que recomendamos na bibliografia são, em termos gerais, fieis ao texto original. Ainda assim, cada tradução já é uma interpretação e as diferenças entre elas mostram a importância do conhecimento das línguas originais. Embora desejável, nem todos têm acesso ao estudo do grego e do hebraico. Isso não impossibilita um estudo bíblico sério, pois ainda é possível consultar cuidadosamente várias ferramentas de estudo e comentários de autores reconhecidos. Em geral, tanto no formato impresso quanto digital, são livros de custo elevado para aquisição, mas recomendamos que você forme aos poucos a sua biblioteca de estudo. É possível que você tenha acesso fácil a uma biblioteca na sua igreja ou em uma escola teológica. Caso não tenha este acesso, já existem ótimos recursos na internet, que você pode consultar sem custo.
Gênero literário. Para a correta interpretação, enfatizamos que as palavras do texto devem ser tomadas conforme o uso mais comum entendido por sua audiência no momento histórico original, e estudadas de acordo com seu arranjo no texto − vocábulos e sintaxe. Devemos considerar ainda que os escritores usaram diferentes gêneros literários para transmitir a mensagem de Deus, e cada gênero tem suas particularidades que devem ser conhecidas e levadas em conta.Os Salmos são essencialmente poesia, o que significa que devemos esperar figuras de linguagem, analogias e metáforas. As epístolas de Paulo são cartas, o que significa que devemos esperar uma progressão lógica de comunicação. Os evangelhos são narrativas, o que significa que devemos esperar por elementos de uma história conforme testemunhada pelo escritor. No Apocalipse, uma profecia, devemos esperar linguagem altamente simbólica. Não podemos interpretar os Salmos da mesma forma como interpretamos as epístolas de Paulo nem interpretar o Apocalipse da mesma forma como interpretamos os Provérbios.
Contexto literário. Na tarefa de interpretar corretamente o texto bíblico, é indispensável que o versículo estudado seja considerado dentro da expansão concêntrica do seu contexto − o parágrafo, capítulo, o livro da Bíblia onde ele se encontra, os outros livros escritos pelo mesmo autor, o Antigo ou Novo Testamento − e também correlacionando-o ao tema central das Escrituras, o plano redentor de Deus revelado progressivamente do Antigo Testamento ao Novo Testamento. Quanto maior for a compreensão do grande quadro, maior será a capacidade de ver os detalhes na perspectiva correta. Interprete a Bíblia com a Bíblia! A mensagem de Deus como um todo está em completa harmonia e concordância. A maior parte dos textos da Bíblia esclarecerá aqueles poucos textos em que podemos ter dificuldades. Não esqueça que todas as partes da Bíblia devem ser interpretadas através da lente do plano de Deus para a salvação. Ao ler o Antigo Testamento, pergunte: “Como essas narrativas, mandamentos ou profecias apontam para Jesus ou se cumprem nEle?”. Lembre-se de que Jesus disse que toda a lei e os profetas falaram a respeito dEle.
A Bíblia deve ser interpretada através da iluminação do Espírito Santo, mas ao mesmo tempo a Bíblia é um livro, e a única correta interpretação é aquela que concorda com sua gramática – o que está escrito. Por esta razão é importante que nós estejamos familiarizados com as regras ou princípios da interpretação. A ciência da Hermenêutica é o estudo desses princípios. Hermenêutica é um assunto sério. A nossa interpretação da Bíblia irá determinar nossas crenças e essas crenças determinarão como pensamos e agimos.
Cuidado, conselheiro bíblico!
Na área do aconselhamento, é comum que as pressuposições humanas influenciem na hora de ler e interpretar a Bíblia. Os conselheiros treinados em sistemas seculares de aconselhamento correm o risco de se aproximar da Bíblia para comprovar o que já defendem. Na verdade, todos nós interpretamos a Bíblia quando a lemos, pois ainda que seja uma leitura superficial, atribuímos algum sentido ao texto. É comum ouvirmos dizer “Para mim, o texto significa que…”. O fato, porém, é que cada texto da Bíblia tem apenas um significado de acordo com seu Autor. Devemos ser cuidadosos para extrair esta interpretação (exegesis) em lugar de levar ao texto nossas teorias e ideias (eisegesis) e fazê-lo dizer aquilo que queremos. Além das pressuposições que podem controlar o entendimento, um outro perigo é nos atermos a versículos isolados, descontextualizados. Isso faz toda diferença no processo interpretativo e pode conduzir a falácias no aconselhamento bíblico.
O conselheiro bíblico encontra três desafios em especial na interpretação e aplicação:
1. Não acrescentar nem subtrair − não é tarefa do conselheiro criar o significado do texto bíblico. O texto original tem um significado.
2. Transmitir com exatidão o significado do texto bíblico em palavras que possam ser entendidas pelo aconselhado.
3. Conhecer o contexto atual e o aconselhado de maneira a orientar na aplicação correta do texto.
APLICAR E CONECTAR
Mergulhe na Bíblia e torne-se habilidoso em estudar o texto e interpretá-lo corretamente. Este é a base sólida para o seu ministério. No entanto, busque e desenvolva também a habilidade de extrair os princípios bíblicos para aplicar na vida cristã. Estabeleça uma conexão entre a verdade revelada na Bíblia aos leitores originais e as situações atuais. Interprete com fidelidade a Palavra de Deus, mas interprete também o seu aconselhado e sua cultura. Estas perguntas podem ajudar em busca de aplicações sábias:
– O que temos em comum com a público original a quem o texto foi escrito?
– O que o texto diz a respeito do ser humano e a nosso respeito?
– Há um mandamento a obedecer ou um princípio geral com implicações para nossos dias?
– Quais as aplicações que podem ser feitas às situações específicas do aconselhado: o que Deus quer que ele pense, creia, deseje, faça nas circunstâncias com que está lidando?
Além de aplicar a Bíblia à sua vida e é preciso estabelecer uma conexão entre a verdade bíblica e a realidade de vida das pessoas que você aconselha.
O ESTUDO TÓPICO PARA O ACONSELHAMENTO
É imprescindível que o conselheiro estude integralmente cada livro da Bíblia para que possa compreender sua mensagem. É recomendável também que parte do seu tempo seja dedicado ao estudo tópico, destacando aqueles assuntos levantados no dia a dia do seu ministério. Lembre, no entanto, que a Bíblia não é uma enciclopédia do século 21! Você não encontra na Bíblia termos como “anorexia”, “bullying” e outros mais que foram cunhados por nossa cultura. Para lidar com esses problemas, você deve “dissecá-los”, ou seja, considerar os aspectos envolvidos em cada um deles e estudá-los separadamente.
Lembretes importantes
● Diferentes palavras do hebraico e do grego podem se traduzidas por uma só palavra em português. Descubra qual a palavra que foi usada no original, o que ela significava e como costumava ser usada.
● Uma única palavra do hebraico ou do grego pode ter sido traduzida de diferentes maneiras no português.
● Uma palavra do hebraico ou do grego pode ser traduzida para o português por uma expressão ou frase composta de várias palavras.
Roteiro para o estudo tópico
● Escolha o assunto que você quer estudar.
● Comece por consultar um dicionário da língua portuguesa para preparar uma lista de palavras relacionadas ao tópico que você quer estudar. Se você tem alguma habilidade nas línguas originais, grego e hebraico, recorra aos léxicos. Caso contrário, pode partir da sua lista de termos em português.
● Para cada palavra, procure todas as referências bíblicas. Seja exaustivo e, com a ajuda de uma concordância, percorra a Bíblia para ter uma visão geral do ensino sobre o tópico. Você pode fazer isso também com a ajuda de aplicativos de estudo da Bíblia, que facilitam a pesquisa de palavras. Busque as palavras em mais de uma versão da Bíblia.
● Estude os versículos no contexto para evitar erros de interpretação e anote suas observações. A palavra é usada de maneiras diferentes em contextos diferentes? Qual é o uso mais frequente? A palavra é comparada ou contrastada com outra palavra no contexto imediato? O contexto esclarece o significado da palavra? Consulte comentários bíblicos para conferir e ampliar seu estudo.
● Compare os versículos, estabeleça correlação entre eles e agrupe-os. Alguns se complementam naturalmente e outros oferecem diferentes aspectos do tópico.
● Sintetize em um esboço aquilo que você aprendeu (veja aqui alguns exemplos).
● Tenha em mãos sua coleção de esboços para aplicação pessoal e para compartilhar no seu ministério.