O “achismo” nasceu com a Queda e virou vício
Estando arraigado em todos os corações humanos e tendo a mais antiga história dentro da Doutrina do Pecado, o vício de explicar tudo a partir da própria “adivinhação” ou ilusão é o mais democrático e universal dos efeitos colaterais da Queda adâmica.
Ninguém explica coisa alguma sem recorrer a ele.
Ninguém ousa confiar em alguma coisa
ou em alguém que não seja após a “filtragem” que ele opera.
Todos fazem uso dele mas ninguém
aceita simpaticamente ser alvo dele. Todos o amam em si, mas o detestam nos
outros.
Usar de achismo é fazer prevalecer a
opinião de sua alma diante de qualquer fato ou ato que chega às suas vistas, ou
melhor, é ser obrigado a engolir a sua própria “adivinhação” da verdade perante
qualquer fenômeno ou ocorrência diante de seus olhos, e pior, impor tal visão
aos outros, que também usam de achismo e também querem impor suas “especulações”
aos semelhantes.
Por ser uma espécie camuflada de
‘adivinhação’ (que muitos pós-doutores chamam de “intuição”, tentando com isso
impor seu próprio achismo de modo mais “glamouroso” e pseudocientífico), ela
nasce, cresce e se mantém absolutamente temerosa para seu próprio formulador, e assim ele deseja, no
fundo, uma “aprovação” sumária daquilo que a sua alma assumiu, como se
precisasse com urgência de ser aprovado por alguém além de si mesmo.
A coisa é tão séria que essa regra da
abrangência “universal” do achismo não poupa nem os mais qualificados
cientistas, que lutam fervorosamente (isso quando lutam,
pois a maioria mal começa a luta e então segue presunçosamente as invenções de
seu achismo) para evitar que sua alma lhe empurre ilusões e ‘intuições’
enviesadas, na consciência de que “ciência não se faz com achismo”, e se ele
for dar trela àquilo que sua alma teima em lhe empurrar todo dia, ele jamais
chegará à verdade sobre qualquer fenômeno que a ciência lhe incumbiu de
investigar.
Pior é que como a sinceridade não é uma virtude muito comum nos corações rebeldes, a maioria dos cientistas acaba sendo igual a nós, ou seja, não passa de uma massa humana irmanada no mesmo pecado, e prossegue enrolando seus semelhantes oferecendo opiniões dele, e não da realidade bruta colhida nas pesquisas, cuja abrangência quase sempre se volta contra ele mesmo. Com efeito, em todas as frentes desta incongruente batalha, a grande vítima é sempre a Verdade, e é por isso que o apóstolo Paulo disse duramente: “Seja Deus verdadeiro e todo homem mentiroso!”.
Como qualquer cristão autêntico, a única solução salutar para este drama humano é reconhecer que a única Verdade verdadeira é a expressa na Palavra de Deus, e qualquer outra conversa é enrolação e achismo, que não merece nenhuma confiança de nossa parte!
Isto obriga a que cada um de nós se volte exclusivamente para a Bíblia e inicie minunciosamente um estudo sequenciado de conhecimento teológico de profunda atenção (o perfeito autodidatismo), não deixando sequer uma brecha para intercalar opiniões alheias, exceto após longo tempo de autopreparação na sequencialidade orgânica da teologia; após o que um padre ou um pastor amigo poderiam ser ouvidos, mas sempre com uma pulga atrás da orelha, pois eles também podem lhe “empurrar” os achismos deles!
O isolamento e a solidão humana neste
mister é torturante!
Estamos literalmente sozinhos nesta
escuridão da ignorância pós-adâmica, e a única voz que poderia nos ajudar é
inaudível e pode perfeitamente ser confundida com um sussurro do inimigo, que
também virá outra vez com seus achismos.
Nem mesmo nossos
filhos e nossos pais merecem confiança neste sentido, pois eles também são
viciados e virão a nós com seus achismos familiares, que são ainda mais duvidosos do que quaisquer
outros. Aliás, se o ato de perguntar é a salvação da alma, não perguntar é o
seu sepultamento!
Logo, a dúvida é o combustível do
achismo, e a preguiça é a sua fonte inesgotável. As opiniões que ouvimos no
nosso lar, desde a infância, e as preguiças físicas e mentais que ali
presenciamos, não passam da renitente perpetuação da ignorância que o diabo
impôs à nossa raça, e foi a nossa família quem nos apresentou a elas, às vezes
do modo mais doloroso!
Então cabe a pergunta: “E Deus não
providenciou nenhuma solução para isto?”. Sim, providenciou, pois nos ensinou a
orar e nos legou a sua própria sabedoria, traduzida pela Palavra de Deus, que
terminam sendo a única tábua de salvação em que podemos nos segurar.
O problema é que usamos tanto de
achismo que em nossa vida inteira de orações e estudos bíblicos, jamais conseguimos silenciar de vez a nossa voz interior,
aquela que irá, mais cedo ou mais tarde, substituir a pura rijeza da Verdade
pelo prazer de nossa própria opinião, que chega para nosso ouvido não como a
Verdade-que-dói, mas como a verdade-que-agrada, ou seja, apenas aquilo que
achamos pessoalmente da Verdade, por meio de uma suposta verdade subjetiva.
Mesmo quando não temos nenhum talento
para o magistério, ou mesmo quando confessamos que não nascemos para ensinar, o
vício de “ensinar” – isto é, dar a própria opinião – exerce uma pressão infinita dentro de nós, como se nunca
pudéssemos chegar perto de alguém e não revelar aquilo que pensamos, e para
isso usamos dos mais requintados subterfúgios, como dizer que aquela opinião
não é nossa (adoramos dizer que ela veio de um cientista como Einstein ou de
outro super mestre), ou que muita gente já atestou aquilo que dizemos, ou que
nós mesmos já o comprovamos em nossa vida.
Nada neste mundo possui mais
“arranjos de autoridade” do que o nosso achismo, sobretudo quando nós mesmos
não temos autoridade alguma no assunto.
Pior: até mesmo os cientistas mais
gabaritados, até com pós-doutoramento, também sofrem desta sedutora tentação, a
saber, que na hora de emitirem uma opinião, embora recebem de sua consciência
toda a bagagem intelectual que já conquistaram em pesquisas e doutorados, são
ludibriados pelo desejo secreto de seu subconsciente, que sempre prefere tomar
a frente e expor a sua opinião pessoal, e não aquilo que as pesquisas
apontaram.
Logo, neste sentido, tanto faz ouvir
um analfabeto quanto um físico nuclear: a opinião ali ouvida será sempre a
“intuição” de uma alma, e não a verdade nua e crua da investigação imparcial
(claro que o Físico tem um universo conceitual maior, mas nem por isso não
inclui também uma invencionice maior!).
Aqui como no tabagismo, o vício
anímico é muito mais forte do que o mais forte dos arrependimentos.
É muito duro ouvir
isto, e por isso deve ser verdade!
Enfim, sendo talvez o vício mais
antigo da Humanidade (veja que antes de pecar, o demônio ensinou Eva a
usar achismo contra a ordem de Deus, usando o achismo dele e dizendo: “certamente não
morrereis”), será precisamente o nosso mais carrapático companheiro a nos
atormentar até no Dia do Juízo, quando Deus nos chamar para darmos explicações
sobre nossos atos. E pior, se foi o medo da ira de Deus
que nos machucou até à alma, foi o nosso achismo que machucou Deus até à ira de
sua santa alma.
Pois Deus sabia que a pior alma para
se converter é aquela que ACHA que está bem, e que ACHA que os outros é que
estão errados.
Uma alma dessas costuma ACHAR que
conhece bem a vontade de Deus e que Ele deve aprovar bem a vontade dela.
Finalmente, Jesus um dia perguntou:
“Até quando vos suportarei?”… No que deveríamos ouvir: “Até quando suportarei
os vossos achismos? Até quando me vireis com achismos?
Quem vos iludiu a fugir da ira vindoura?
Quem usou tão odioso achismo contra
vós?”
… Enfim, as palavras deste
articulista podem parar por aqui, pois agora todos sabem que não passam de mero
achismo.
Quem dera ter encontrado um ouvido
que tinha um olho pra dentro e pôde ver que também tinha o mesmo vício, de
opinar via achismo.
Quem dera possa, junto comigo, achar
que nosso achismo já achou o seu devido lugar: na surdez para com Deus e no
esquecimento do perdão de Cristo.