RELACIONAMENTO COM DEUS

SOLITUDE

RELACIONAMENTO COM DEUS ATRAVÉS DA SOLITUDE

 

Lucas 6:12 Num daqueles dias, Jesus saiu para o monte a fim de orar, e passou a noite orando a Deus. 

 

Jesus começou o seu ministério em Solitude: 40 dias no deserto (Mt 4.1-11).

Antes de escolher seus discípulos, passou uma noite inteira em oração (Lc 6.12).

No Getsêmani, antes do seu momento crucial, Ele mergulhou em profunda e voluntária Solitude, só Ele e o Pai (Mt 26.36s). 

Esses são alguns exemplos dentre vários em que Jesus se retira para ficar a sós.  

Mas, Solitude não é atitude de oração falada, nem de louvor. É quando a música se cala e a oração acaba, restando somente o silêncio, o descanso da alma em Deus. 

 

O que é Solitude? 

Primeiramente, cabe estabelecer que, embora apresentada em alguns dicionários como sinônimo de solidão, a Solitude diz respeito a um conceito distinto.  

Vamos comparar os dois conceitos para uma melhor compreensão: 

 

SOLIDÃO 

Se sentir só. Sentimento de vazio interior, de que algo lhe falta…

 

SOLITUDE 

Saber estar só, com um propósito. Isolamento voluntário. Estado de espírito de realização interior, de que o que se tem, basta. 

Portanto, podemos ver como a Solitude não é um estado negativo, mas importante para nós.  

É quando estamos a sós que conseguimos colocar nossos pensamentos em ordem, meditar a respeito das nossas atitudes, emoções e da nossa fé. 

Como podemos enxergar o salmista em sua Solitude, meditando nos seus próprios sentimentos: “por que estás abatida ó minha alma?” (Sl 42.5). A Solitude, portanto, deve ser praticada. 

Como consequência imediata da desorientação, a Solitude tornou-se uma das disciplinas espirituais mais esquecidas e negligenciadas dentro das Igrejas.

 

RELACIONAMENTO COM DEUS ATRAVÉS DA SOLITUDE 

A oração de solitude é a capacidade de calar totalmente a nossa alma, para ouvir com o nosso espírito o que Deus tem para falar conosco. 

É se preparar não para falar com Deus, mas para ouvir a Deus somente. 

O diferencial desse Relacionamento com Deus, é que ele não envolve uma expressão vocal da pessoa, mas uma atitude de entrega radical. 

É fazer um retiro espiritual, como Jesus o fazia, para fugir das pessoas, das preocupações, do barulho ensurdecedor deste mundo, para se concentrar e verdadeiramente em buscar ao Senhor e se entregar totalmente a Ele. 

No mundo é conhecido como estado de meditação, mas na Bíblia é tido como esvaziamento do si mesmo para ser cheio do Espírito Santo de Deus. 

Filipenses 2:5-8 Tende em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus, pois ele, subsistindo em forma de Deus, não julgou como usurpação o ser igual a Deus; antes, a si mesmo se esvaziou, assumindo a forma de servo, tornando-se em semelhança de homens; e, reconhecido em figura humana, a si mesmo se humilhou, tornando-se obediente até à morte e morte de cruz.  

 

AQUIETAI-VOS E SABEI QUE SOU DEUS

 

“Aquietai-vos, e sabei que eu sou Deus; sou exaltado entre as nações, sou exaltado na terra.” (Salmos 46:10) 

Na prática, nada vai mudar em nossas vidas até que sintamos a urgência de ouvir a voz de Deus e a futilidade de todas as nossas atividades seculares e religiosas que não estão baseadas nisso. 

Quando ficamos convictos disto, precisamos começar a separar tempo e espaço para Deus cada dia, e à medida que nosso interior se aquieta, sintonizar-nos com a voz de Deus. Com certeza, as palavras que ouvirmos da sua boca nos levarão a decisões práticas e radicais que mudarão o nosso estilo de vida, liberando nossa alma de tantas atrações e desejos fúteis, e criando muito mais tempo e espaço para o diálogo com Deus.

 

AQUIETAI-VOS

 

“Mas o Senhor está no seu santo templo; cale-se diante dele toda a terra.” (Habacuque 2:20)

 

“Cale-se, toda a carne, diante do Senhor; porque ele se levantou da sua santa morada.” (Zacarias 2:13)

 

Por natureza somos irrequietos e agitados, mas em momentos de crise ou tensão esta inquietação aumenta. Sentimo-nos obrigados a tomar decisões, procurar soluções e planejar estratégias. Se não sabemos o que fazer ficamos andando em círculos procurando uma saída, ou falamos sem parar para expressar nossa preocupação e frustração.

 

Neste início de século, todos — tanto cristãos como não-cristãos — sabemos que o planeta Terra e todos os seus habitantes, onde quer que se encontrem, passarão por dias turbulentos, inseguros e imprevisíveis.

 

De fato, as palavras de Jesus no Evangelho de Lucas capítulo 21 versos 25 e 26 — descreve a situação da humanidade nos últimos dias — :

 

“… E sobre a terra haverá angústia das nações em perplexidade pelo bramido do mar e das ondas; os homens desfalecerão de terror, e pela expectação das coisas que sobrevirão ao mundo …”

 

Como cristãos, além das notícias diárias, contamos com as profecias claras das Escrituras. Elas mostram que, antes de melhorar (com a vinda do reino de Deus), as coisas vão piorar (e muito!)

 

AS TREVAS COBRIRÃO A TERRA E HAVERÁ PRAGAS, GUERRAS, FOME, TERROR E TRIBULAÇÃO

 

Diante de tal situação, mais do que nunca se torna necessário entendermos o que Deus espera de nós como seu povo na terra, nesta geração.

 

Grande responsabilidade pesa sobre nós para desempenharmos fielmente nosso papel no plano cósmico de Deus. Somos como os atletas da última etapa de uma corrida de revezamento, de quem depende o sucesso de todos os atletas das etapas anteriores.

 

Portanto, passaremos dias de tensão sem precedentes, com tendência a se agravar cada vez mais. Em tais situações, como mencionado anteriormente, nossa inquietação e agitação naturais tendem a aumentar grandemente. Mas as instruções de Deus para nós são totalmente contrárias a esta tendência natural. Ao invés de exigir muito esforço e ativismo, Deus ordena que fiquemos quietos! Ao invés de conclamar-nos à batalha, ele manda aquietemo-nos! Ao invés de pedir que todas as sirenes de emergência sejam ligadas, ele pede que nos retiremos de todo barulho e distração e nos recolhamos a um lugar silencioso de oração e adoração!

 

POR QUÊ?

 

Em primeiro lugar, precisamos entender, uma vez por todas, que Deus não criou o homem para ser um escravo ou empregado que executa suas ordens.

 

Para isto ele tem miríades de anjos que o fazem muito melhor do que nós.

 

O propósito de DEUS para o HOMEM é que, ESTE ADMINISTRE A EXECUÇÃO DOS SEUS PLANOS NA TERRA, EM COMUNHÃO COM ELE, e

 

sendo de fato, SUA IMAGEM e REPRESENTAÇÃO para o resto da criação. 

 

A FUNÇÃO PRIMORDIAL E PRIORITÁRIA DO HOMEM É OUVIR, E NÃO “FAZER”!

 

Assim como Deus determinou que o homem fosse a chave para toda a criação e que nada acontecesse sem Sua participação e permissão, da mesma forma Ele nunca pensou que o homem devesse fazer qualquer coisa, por pequena que fosse, sem Ele. A criação é o projeto de Deus, e nada pode ser feito nela que não seja originado por Deus e compartilhado com o homem.

 

O HOMEM NÃO GOSTA DE OUVIR

 

O grande problema de Deus com o homem é que este não quer ouvir.

 

O que o homem tem de pressa para agir, falta-lhe em paciência para ouvir. Confira a seguir algumas passagens que mostram este problema milenar do homem:

 

“… Se ainda mais ouvirmos a voz do Senhor nosso Deus, morreremos… Chega-te tu, e ouve tudo o que o Senhor nosso Deus falar; e tu nos dirás tudo o que ele te disser; assim o ouviremos e cumpriremos.” (Deuteronômio 5:25,27)

 

Israel não queria ouvir Deus; queria que Moisés o ouvisse e que eles apenas cumprissem as ordens, por ser, na avaliação deles, a parte mais fácil!

 

“Ouve-me, povo meu, e eu te admoestarei; ó Israel, se me escutasses!… Mas o meu povo não ouviu a minha voz, e Israel não me quis… Oxalá me escutasse o meu povo! Oxalá Israel andasse nos meus caminhos!” (Salmos 81:8,11,13)

 

“Ah! Se tivesses dado ouvidos aos meus mandamentos! Então seria a tua paz como um rio, e a tua justiça como as ondas do mar.” (Isaías 48:18)

 

“Por que gastais o dinheiro naquilo que não é pão? E o produto do vosso trabalho naquilo que não pode satisfazer? Ouvi-me atentamente, e comei o que é bom… Inclinai os vossos ouvidos, e vinde a mim; ouvi, e a vossa alma viverá; porque convosco farei um pacto perpétuo.” (Isaías 55:2-3)

 

“Tinha esta uma irmã chamada Maria, a qual, sentando-se aos pés do Senhor, ouvia a sua palavra. Marta, porém, andava preocupada com muito serviço …” (Lucas 10:39-40)

 

“Logo a fé é pelo ouvir, e o ouvir pela palavra de Cristo.” (Romanos 10:17)

 

“Pelo que, como diz o Espírito Santo: Hoje, se ouvirdes a sua voz, não endureçais os vossos corações, como na provocação.” (Hebreus 3:7-8)

 

“Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas.” (Apocalipse 2:7)

 

POR QUE O HOMEM NÃO GOSTA DE OUVIR?

 

Por que o homem tem tanta dificuldade em ouvir a Deus? Existem vários motivos, mas queremos ressaltar os dois principais:

 

1 – Auto confiança: O homem confia tanto em si mesmo que não sente necessidade de ouvir de Deus. O máximo que sente é a necessidade de Deus abençoar e fazer prosperar seus próprios projetos e planos.

 

2 – Barulho: O homem está cercado por tantas vozes interiores e exteriores que tem dificuldade em ouvir a voz de Deus. Para fugir da confusão produzida por estas vozes conflitantes o homem mergulha nas atividades profissionais, no lazer, nos vícios ou nos programas religiosos. De toda forma possível, procura um meio de escape das questões insolúveis da vida, às vezes evitando-as e outras vezes aceitando respostas fáceis. Em ambos os casos, as questões permanecem sem solução e acabam aparecendo novamente, causando caos em sua vida.

 

Isto porque a única coisa que pode resolvê-las é ouvir a voz de Deus.

 

À medida que as tensões aumentam no mundo e o fim de todas as coisas se aproxima, Deus ordena — e cada vez com mais intensidade e urgência — que nos aquietemos. Por quê? Durante a história o plano de Deus na terra tem passado por épocas de dormência quando Deus aparentemente não estava falando ou fazendo nada. Nestas épocas Deus permite que os homens se enganem pensando que estão controlando as coisas tanto secular quanto religiosamente.

 

Mas em outras ocasiões, Deus se levanta com zelo e furor e começa a fazer tremer todas as estruturas humanas. É nestas épocas que ele manda o homem se aquietar. É como se ele estivesse dizendo: “Vocês já brincaram bastante. Saiam do meu caminho, porque agora eu vou agir!” Isto é verdade em relação ao ativismo humano e a todas as respostas prontas da sabedoria humana. Por outro lado, em relação à função do seu povo na terra, é como se ele estivesse dizendo:

 

“Façam calar todas as outras vozes, suas próprias opiniões e as opiniões dos outros. Tenho algo muito importante para falar e fazer no mundo e depende da minha comunhão com vocês. Se eu não ganhar sua atenção irrestrita, não poderei falar. Calem-se! Aquietem-se! Desistam de todos seus próprios planos, idéias e soluções e preparem-se para me ouvir!”

 

A Importância do Deserto

 

Não é por acaso que Deus leva muitos dos seus filhos para o deserto para poder falar com eles. No deserto, longe do barulho e movimento da cidade, é mais fácil ouvir a voz de Deus porque é mais fácil dar a atenção irrestrita a Deus que isto requer. Moisés só encontrou com Deus depois de uma dose cavalar de deserto: 40 anos, calando todas as ambições e idéias da alma:

 

“Ora, Moisés estava apascentando o rebanho de Jetro, seu sogro, sacerdote de Midiã; e levou o rebanho para trás do deserto, e chegou a Horebe, o monte de Deus. E apareceu-lhe o anjo do Senhor em uma chama de fogo do meio duma sarça. Moisés olhou, e eis que a sarça ardia no fogo, e a sarça não se consumia; pelo que disse: Agora me virarei para lá e verei esta maravilha, e por que a sarça não se queima.

 

E vendo o Senhor que ele se virara para ver, chamou-o do meio da sarça, e disse: Moisés, Moisés! Respondeu ele: Eis-me aqui. Prosseguiu Deus: Não te chegues para cá; tira os sapatos dos pés; porque o lugar em que tu estás é terra santa. Disse mais: Eu sou o Deus de teu pai, o Deus de Abraão, o Deus de Isaque, e o Deus de Jacó. E Moisés escondeu o rosto, porque temeu olhar para Deus.” (Êxodo 3:1-6)

 

Depois deste encontro com Deus, sua tarefa era ir ao Egito e trazer todo o povo de Israel a este mesmo lugar, para encontrar-se com Deus:

 

“Respondeu-lhe Deus: Certamente eu serei contigo; e isto te será por sinal de que eu te enviei: Quando houveres tirado do Egito o meu povo, servireis a Deus neste monte.” (Êxodo 3:12)

 

“No terceiro mês depois que os filhos de Israel haviam saído da terra do Egito, no mesmo dia chegaram ao deserto de Sinai. Tendo partido de Refidim, entraram no deserto de Sinai, onde se acamparam; Israel, pois, ali acampou-se em frente do monte.” (Êxodo 19:1-2)

 

“E Moisés levou o povo fora do arraial ao encontro de Deus; e puseram-se ao pé do monte.” (Êxodo 19:17)

 

Quando Elias entrou em crise e precisava ouvir de Deus, para onde será que ele foi? Ao deserto!

 

“Quando ele viu isto, levantou-se e, para escapar com vida, se foi. E chegando a Berseba, que pertence a Judá, deixou ali o seu moço. Ele, porém, entrou pelo deserto caminho de um dia, e foi sentar-se debaixo de um zimbro; e pediu para si a morte, dizendo: Já basta, ó Senhor; toma agora a minha vida, pois não sou melhor do que meus pais.” (1 Reis 19:3-4)

 

“Levantou-se, pois, e comeu e bebeu; e com a força desse alimento caminhou quarenta dias e quarenta noites até Horebe, o monte de Deus.” (1 Reis 19:8)

 

Depois do cativeiro de Israel quando Deus começou a falar sobre a restauração do seu povo, será que os guiaria direto da Babilônia para Jerusalém? Não. Primeiro ele disse que levaria seu povo ao deserto para falar com eles ali:

 

“Portanto, eis que eu a atrairei, e a levarei para o deserto, e lhe falarei ao coração.” (Oséias 2:14)

 

“E vos levarei ao deserto dos povos; e ali face a face entrarei em juízo convosco; como entrei em juízo com vossos pais, no deserto da terra do Egito, assim entrarei em juízo convosco, diz o Senhor Deus. Também vos farei passar debaixo da vara, e vos farei entrar no vínculo do pacto; e separarei dentre vós os rebeldes, e os que transgridem contra mim; da terra das suas peregrinações os tirarei, mas ã terra de Israel não voltarão; e sabereis que eu sou o Senhor.” (Ezequiel 20:35-38)

 

Depois de 400 anos de silêncio, onde foi que a palavra do Senhor voltou a ser ouvida por um homem? No deserto, por João Batista!

 

“Ora, o menino crescia, e se robustecia em espírito; e habitava nos desertos até o dia da sua manifestação a Israel.” (Lucas 1:80)

 

“Sendo Anás e Caifás sumos sacerdotes, veio a palavra de Deus a João, filho de Zacarias, no deserto.” (Lucas 3:2)

 

O próprio Filho de Deus encarnado, Jesus, sentia necessidade freqüente de se retirar do meio do povo para ficar em lugares desertos para ter comunhão íntima com seu Pai:

 

“Mas ele se retirava para os desertos, e ali orava.” (Lucas 5:16)

 

“Naqueles dias retirou-se para o monte a fim de orar; e passou a noite toda em oração a Deus.” (Lucas 6:12)

 

“De madrugada, ainda bem escuro, levantou-se, saiu e foi a um lugar deserto, e ali orava. Foram, pois, Simão e seus companheiros procurá-lo.” (Marcos 1:35-36)

 

E finalmente, no último livro da Bíblia vemos que o único lugar de sustento e proteção para a igreja gloriosa será o deserto:

 

“E a mulher fugiu para o deserto, onde já tinha lugar preparado por Deus, para que ali fosse alimentada durante mil duzentos e sessenta dias.” (Apocalipse 12:6)

 

“E foram dadas à mulher as duas asas da grande águia, para que voasse para o deserto, ao seu lugar, onde é sustentada por um tempo, e tempos, e metade de um tempo, fora da vista da serpente.” (Apocalipse12:14)

 

Nossa cultura moderna nos tem condicionado ao ativismo e acabamos aplicando esse modo de ser também à nossa vida espiritual.

 

Achamos que para ouvir de Deus temos de fazer algo: orar mais, jejuar e nos santificar. O problema é que ficamos tão envolvidos em nossas atividades para “buscar” a Deus que fica impossível achá-lo!

 

Valorizamos tanto o processo da busca que perdemos a visão do objetivo.

 

Fazia muito tempo que Deus queria falar com seu povo e ele tinha urgência, mas isto não o impediu de fazer Moisés esperar seis dias inteiros no Monte Sinai antes de começar a falar com ele:

 

“E tendo Moisés subido ao monte, a nuvem cobriu o monte. Também a glória do Senhor repousou sobre o monte Sinai, e a nuvem o cobriu por seis dias; e ao sétimo dia, do meio da nuvem, Deus chamou a Moisés.” (Êxodo 24:15-16)

 

OUVIR A DEUS GASTA TEMPO E REQUER ATENÇÃO TOTAL

 

A alma tem que se calar. As preocupações de Moisés com o povo e consigo mesmo tinham de desaparecer e um silêncio total invadir seu ser para que a voz de Deus pudesse ser ouvida com clareza e pureza.

 

Todos os problemas de Saul começaram quando ele não teve paciência para esperar por Samuel para trazer-lhe as próximas instruções de Deus:

 

“Esperou, pois, sete dias, até o tempo que Samuel determinara; não vindo, porém, Samuel a Gilgal, o povo, deixando a Saul, se dispersava. Então disse Saul: Trazei-me aqui um holocausto, e ofertas pacíficas. E ofereceu o holocausto. Mal tinha ele acabado de oferecer e holocausto, eis que Samuel chegou; e Saul lhe saiu ao encontro, para o saudar.

 

Então perguntou Samuel: Que fizeste? Respondeu Saul: Porquanto via que o povo, deixando-me, se dispersava, e que tu nao vinhas no tempo determinado, e que os filisteus já se tinham ajuntado em Micmás, eu disse: Agora descerão os filisteus sobre mim a Gilgal, e ainda não aplaquei o Senhor. Assim me constrangi e ofereci o holocausto. Então disse Samuel a Saul:

 

Procedeste nesciamente; não guardaste o mandamento que o Senhor teu Deus te ordenou. O Senhor teria confirmado o teu reino sobre Israel para sempre; agora, porém, não subsistirá o teu reino; já tem o Senhor buscado para si um homem segundo o seu coração, e já o tem destinado para ser príncipe sobre o seu povo, porquanto não guardaste o que o Senhor te ordenou.” (1 Samuel 13:8-14)

 

Deus não vai ser encontrado por nós na hora em que nós queremos, mas na hora em que ele quer e isto significa que precisaremos esperar paciente e persistentemente por ele.

 

Um homem de Deus do início do século XX, G. C. Bevington experimentou tremendos encontros com Deus e maravilhosas respostas de oração através de praticar este princípio de esperar em Deus. Ele dizia que era necessário ficar absolutamente quieto em todo sentido diante de Deus e que isto normalmente lhe tomava vários dias e noites, ininterruptos, e quase sempre em jejum.

 

No fim, em poucos minutos Deus falava tudo que ele precisava saber, mas gastava muito tempo para alcançar estes preciosos momentos.

 

QUANDO DEUS CHEGA PARA FALAR, ELE NÃO GOSTA DE SER INTERROMPIDO

 

Às vezes, o homem é tão cheio de si que não percebe a majestade de Deus e afugenta a arisca pomba do Espírito.

 

No monte da transfiguração, Pedro, ao invés de ficar mudo em reverência e assombro diante da visão da glória de Jesus e o aparecimento de Moisés e Elias, com as melhores intenções começou a falar bobagens:

 

“Ora, Pedro e os que estavam com ele se haviam deixado vencer pelo sono; despertando, porém, viram a sua glória e os dois varões que estavam com ele. E, quando estes se apartavam dele, disse Pedro a Jesus: Mestre, bom é estarmos nós aqui: façamos, pois, três cabanas, uma para ti, uma para Moisés, e uma para Elias, não sabendo o que dizia.” (Lucas 9:32-33)

 

Deus, porém, logo cortou suas palavras insensatas e fê-lo sentir temor ao envolvê-lo com a nuvem da sua presença e expressar-se em voz audível:

 

“Enquanto ele ainda falava, veio uma nuvem que os cobriu; e se atemorizaram ao entrarem na nuvem. E da nuvem saiu uma voz que dizia: Este é o meu Filho, o meu eleito; a ele ouvi. Ao soar esta voz, Jesus foi achado sozinho; e eles calaram-se, e por aqueles dias não contaram a ninguém nada do que tinham visto.” (Lucas 9:34-36)

 

Salomão, o homem mais sábio da terra, referiu-se a este assunto quando disse:

 

“Guarda o teu pé, quando fores à casa de Deus; porque chegar-se para ouvir é melhor do que oferecer sacrifícios de tolos; pois não sabem que fazem mal. Não te precipites com a tua boca, nem o teu coração se apresse a pronunciar palavra alguma na presença de Deus; porque Deus está no céu, e tu estás sobre a terra; portanto sejam poucas as tuas palavras. Porque, da multidão de trabalhos vêm os sonhos, e da multidão de palavras, a voz do tolo.” (Eclesiastes 5:1-3)

 

Na prática, nada vai mudar em nossas vidas até que sintamos a urgência de ouvir a voz de Deus e a futilidade de todas as nossas atividades seculares e religiosas que não estão baseadas nisto.

 

Quando ficamos convictos disto, precisamos começar a separar tempo e espaço para Deus cada dia, e à medida que nosso interior se aquieta, sintonizar-nos com a voz de Deus.

 

Com certeza, as palavras que ouvirmos da sua boca nos levarão a decisões práticas e radicais que mudarão o nosso estilo de vida, liberando nossa alma de tantas atrações e desejos fúteis, e criando muito mais tempo e espaço para o diálogo com Deus. É neste espaço livre e vazio, criado no interior de uma pessoa que não quer mais nada a não ser Deus, que o Espírito Santo começará a agir e coordenar as últimas etapas do seu plano para o homem na terra.

 

Podemos ver no livro do Apocalipse que os grandes acontecimentos do fim não serão executados pelo homem, mas pelos anjos. A nossa parte como igreja, como povo do Senhor vivendo na terra, é entrar no santíssimo lugar em adoração e comunhão com Deus, e isto vai liberar os anjos para executar os juízos de Deus sobre a terra e preparar o caminho para a vinda do reino de Deus.

 

A solitude na busca pela direção de Deus

 

“Num daqueles dias, Jesus saiu para o monte a fim de orar, e passou a noite orando a Deus. Ao amanhecer, chamou seus discípulos e escolheu doze deles, a quem também designou como apóstolos: Simão, a quem deu o nome de Pedro; seu irmão André; Tiago; João; Filipe; Bartolomeu; Mateus; Tomé; Tiago, filho de Alfeu; Simão, chamado zelote; Judas, filho de Tiago; e Judas Iscariotes, que veio a ser o traidor.” Lucas 6:12-16

 

Em tempos de incertezas, a direção de Deus se faz mais necessária para que as nossas decisões conduzam a nós e àqueles a quem buscamos cuidar na direção de pastos verdejantes.

 

Ser dirigido por Deus significa dizer que existe uma capacidade em nós que nos permite receber direções. Ouvir a Deus é tal capacidade.

 

Ele nos fala através da Palavra, através de sermões, através das circunstâncias, através da comunhão com irmãos, sonhos, devocionais por meio de Whatsapp, enfim, Ele tem diversos meios para se comunicar e ser ouvido.

 

Apesar de ser aceito pela maioria que podemos falar com Deus, muitos torcem o nariz com a ideia de que Deus fale conosco. Muitos achariam doentio e presunçoso alguém dizer que Deus havia falado com ele ou ela. Mas, para nós que cremos, inconcebível seria acreditar no contrário. Inconcebível seria um mundo onde não seja possível ouvir Deus falando.

 

Para a nossa devocional, quero destacar que a solitude é algo de grande valor na busca pela direção de Deus.

 

Vou citar um dos momentos na minha vida, quando deparado com uma dura decisão, fui obrigado a buscar solitude para ouvir a voz do Senhor. Separei alguns dias, levei a Sua palavra, livros, mensagens e, em jejum, busquei uma direção específica. Se não me falha a memória, ao final do segundo dia, cheguei a uma decisão que, tempos depois, constatei haver sido a decisão certa. Essa decisão acabou contrariando a lógica humana e eu provavelmente teria colhido consequências sérias se não tivesse separado esse tempo de solitude para ouvir a Deus.

 

Deus fala. O tempo todo. Assim como existem ondas radiofônicas no ar, Deus está o tempo todo enviando mensagens. Mas para ter acesso é preciso “sintonizar” na Sua frequência.

 

Neste tempo de quarentena, busque separar tempo para estar a sós com Deus. Algo intencional. Substancial. Entre no seu quarto secreto e saiba que o Pai que vê em secreto o recompensará.

 

JEREMIAS 29:12-13 Então, me invocareis, passareis a orar a mim, e eu vos ouvirei. Buscar-me-eis e me achareis quando me buscardes de todo o vosso coração.

 

Jesus nos chama da solidão para solitude:

 

“Vinde a mim todos vocês que estão cansados e sobrecarregados e eu os aliviarei, aprendei de mim que sou manso e humilde de coração, e vocês acharão descanso para a suas almas.” (Mt 11.29).

 

Jesus nos convida a desligar as outras vozes e sons e a nos retirarmos. Em meio a tantas vozes e agitação, jamais encontraremos o descanso que Ele pode nos dar em secreto (Mt 6.6).

 

O exemplo de Jacó

 

Em sua jornada de volta à terra da promessa, Jacó fez passar todos e tudo que lhe pertencia para o outro lado do ribeiro de Jaboque, ficando ele só. 

 

Naquele momento de Solitude, teve a maior experiência de sua vida: um encontro com Deus e consigo mesmo. 

 

A pergunta que lhe ressoou aos ouvidos foi: “como te chamas?”. Ou, em outras palavras: “como você pode ser chamado, ou conhecido?”. 

 

E ele teve que responder: “Jacó”, que significa enganador, usurpador, mau caráter. Esse olhar para dentro de si mesmo trouxe uma transformação maravilhosa sobre a vida de Jacó. 

 

O seu nome foi mudado de Jacó para Israel, que significa Príncipe de Deus que luta, representando a mudança interior que estava acontecendo no “velho Jacó” (Gn 32.22s).

 

A importância da Solitude, e como isso se aplica a nós?

 

Também precisamos travar essa luta com nós mesmos. 

 

Nossos medos, carências, necessidade de reconhecimento e aceitação, assim como toda a nossa natureza pecaminosa precisa ser confrontada. 

 

A nossa fuga do silêncio e da quietude aponta para o nosso medo de ficar sozinhos, e nos impulsiona para a multidão, para o barulho e distração constante.

 

A Solitude nos livra da dependência excessiva da vida emocional, do sentimentalismo superficial, das relações vazias e da busca incessante de fontes de prazer instantâneo.

 

Encontrando a alegria em estar sozinho 

 

A fonte da nossa verdadeira alegria é Cristo (Sl 16.11), e Ele precisa de espaço no nosso interior para arrumar a Sua morada. Ele precisa de silêncio para falar ao nosso coração, precisa nos confrontar com aquilo que somos para fazer de nós algo melhor!

 

Solitude é a mortificação dos apetites sensoriais para aprender a descansar e ter intimidade com Deus. 

 

É quando abrimos mão da animação constante, de estar por dentro do fluxo interminável de informações das redes sociais, do entretenimento, da satisfação imediata, para interiorizar o nosso foco. 

 

É quando eliminamos os ruídos ao nosso redor para ouvir o som do nosso coração, e ajustar as suas batidas no ritmo do coração de Deus.

 

Como colocar a Solitude em prática?

A Palavra só torna-se prática em nossas vidas quando é dotada de aplicabilidade pessoal. 

 

Para tanto, existem atitudes internas e externas que podem nos proporcionar a paz e quietude da alma.

 

Atitudes internas:

 

Dê menos importância a opinião dos outros. Gaste mais tempo com você e com a voz de Deus. É aí que a sua verdadeira identidade é forjada.

Não tente se justificar. Jesus foi levado como “ovelha muda” perante os seus tosquiadores. Trabalhe o silêncio e a paz na sua própria consciência, e não diante dos olhos dos outros.

 

Mesmo em meio às tarefas do cotidiano, mantenha no coração um silêncio interior.

 

Atitudes Externas:

 

Eleja um lugar tranquilo na sua casa para silêncio e solitude.

Retire-se ocasionalmente, a sós, para reorientar em Deus os seus pensamentos, sentimentos e direção de vida.

 

Durante o dia, faça pequenas pausas para a Solitude: no trânsito, na xícara de café da manhã, no almoço…

 

Dedique uns minutos a contemplação: no por do sol, das estrelas a noite…

 

E por fim, discipline-se para falar pouco e dizer muito. Não jogue palavras ao vento:

 

“Na multidão de palavras não falta pecado, mas o sábio refreia os seus lábios.” (Pv 10.19).